A fúria dos canhões: artilharia belga em ação contra os alemães numa das primeiras batalhas desta nova guerra |
A
EXPLOSÃO
Assassinato
do arquiduque detona guerra na Europa
Batalhas
entre Tríplice Aliança e Tríplice Entente tomam continente de assalto
Conflito
já surge como a Grande Guerra da humanidade
Tudo
começou no fim do século passado, quando os destemidos líderes das potências do
Velho Continente começaram a rodopiar seus malabares de fogo sobre um imenso
barril de pólvora chamado Europa. Na Alemanha, o kaiser Guilherme II nutria uma
ideia fixa: arrumar um lugar ao sol para as forças tedescas na inflamável
corrida colonialista. Na França, o ardente desejo do comandante-em-chefe Joseph
Joffre era vingar-se dos germânicos pela subtração dos territórios da Alsácia e
Lorena. E na Rússia, o czar Nicolau II, faminto por conquistas militares,
tentava recuperar todo o prestígio perdido na vergonhosa derrota para os
japoneses em 1905. Esses sinais já indicavam ao mundo que as labaredas estavam
muito próximas. Pois as manifestações pirofágicas dos mandachuvas – agora
incitadas pela fagulha do assassinato do arquiduque austríaco Francisco
Ferdinando, em junho último – finalmente fizeram explodir, neste ano da graça
de 1914, o tão temido conflito bélico pan-europeu. Agora é guerra, não resta
dúvida. Falta saber por quanto tempo (e por quantas partes do globo) essas
chamas vão arder.
Amarrados
por uma emaranhada rede de alianças, a maioria absoluta das nações europeias já
toma parte nas hostilidades – seja como agressora, seja como presa dos pelotões
armados. No escaldante teatro de operações, digladiam-se a Tríplice Aliança,
encabeçada pela Alemanha e pelo império Austro-Húngaro, e a Tríplice Entente,
que reúne Grã-Bretanha, França e Rússia. As primeiras manobras foram
registradas pelos alemães, que, em 2 de agosto – um dia depois de sua
declaração de guerra à Rússia e um dia antes da declaração de guerra à França
–, invadiram o pequeno ducado de Luxemburgo. No dia 4, o exército da Alemanha
marchou sobre a Bélgica, país que, apesar de sua neutralidade, foi atacado por
estar no caminho germânico rumo à França. Com isso, a Grã-Bretanha, que
inicialmente pretendia se manter distante da sentença dos canhões, declarou
guerra à Alemanha. O tabuleiro da guerra estava montado.
Desde
então, apenas no front ocidental, já se contabilizam 14 grandes batalhas
deflagradas. As mais concorridas são as Batalhas das Fronteiras, que mobilizam
mais de 1.250.000 soldados franceses e 1.300.000 alemães na região oriental da
França e meridional da Bélgica. No front oriental, também é ensurdecedor o
gritar das armas. Em 17 de agosto, 350.000 russos, divididos em dois exércitos,
invadiram o Leste da Prússia pelo sul e pelo norte. A agressão inicial em
Stalluponen foi repelida pelo exército alemão – que, contudo, capitulou em
Gumbinnen, alguns dias mais tarde. Mas os germânicos já registraram um triunfo
avassalador em Tannenberg, onde capturaram 95.000 soldados russos e mataram
outros 30.000 – revés que levou o multiestrelado general Alexander Samsonov,
comandante do Segundo Exército da Rússia, a cometer suicídio. Por seu altíssimo
potencial incendiário, o conflito já recebe dos analistas políticos e militares
a alcunha de "Grande Guerra", termo que outrora descrevera as
contendas napoleônicas, mas que agora parece talhado à perfeição a esta
fervorosa e intrincada carnificina.
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Avanço dos teutônicos: alemães enfrentarão britânicos, franceses e russos |
O estopim em Sarajevo
– Causa espanto pensar que um crime isolado cometido de forma solitária por um
jovem extremista possa mergulhar o mundo todo numa guerra. Foi exatamente isso,
porém, que ocorreu nas últimas semanas. No último dia 28 de junho, o arquiduque
Francisco Ferdinando, herdeiro do trono austro-húngaro, foi alvejado à
queima-roupa em Sarajevo por um estudante sérvio, Gavrilo Princip, ligado à
organização nacionalista Mão Negra. Contudo, pela demora na reação do império
Austro-Húngaro, o atentado, que ceifou também a esposa do nobre, Sofia, não
parecia tomar grandes dimensões, muito menos funcionar como a centelha que
seria capaz de inflamar a Europa. Passaram-se três longas semanas até que o
estafe do imperador Francisco José encaminhasse à Sérvia um ultimato. Nessa
mensagem, além de acusar implicitamente o governo sérvio de estar envolvido no
crime, Viena elencava uma série de exigências visando reforçar a soberania
austro-húngara nos Bálcãs. Entregue no dia 23 de julho, o documento foi
respondido pela Sérvia dois dias depois – e, para surpresa geral, contestado em
apenas pequenas cláusulas. Em resumo, o governo sérvio, apesar de negar
qualquer participação no atentado, aceitava as requisições e termos da carta.
Mesmo assim, o império Austro-Húngaro decidiu pela declaração de guerra, no dia
28 de julho. E o efeito dominó não tardaria a chegar às demais nações
europeias.
Respeitando
um tratado de amizade com a Sérvia, a Rússia logo anunciou a mobilização de seu
gigantesco exército para a defesa dos eslavos. Por outro lado, a Alemanha, que
já assinara um pacto com o império Austro-Húngaro, considerou a decisão russa
um ato de guerra contra seus aliados, e declarou guerra à Rússia. Na verdade, o
apoio do Reichstag alemão já havia sido sacramentado antes mesmo que o ultimato
à Sérvia fosse enviado. Consultado pelo governo de Francisco José, os
germânicos garantiram total suporte a Viena, qualquer que fosse o resultado da
ação. Dando continuidade à sequência, a França, comprometida com Rússia também
através de um tratado, conclamou guerra contra a Alemanha e, por tabela, contra
o império Austro-Húngaro. Aqui, a cadeia poderia ter sido rompida: aliada dos
gauleses por um pouco consistente pacto verbal, a Grã-Bretanha não se via
obrigada a juntar-se à França na contenda.
Desde
os anos 1870, os insulares propalavam aos quatro ventos sua política de
"isolamento esplêndido", evitando interferir na política continental
europeia. Entretanto, a marcha alemã na neutra Bélgica fez o primeiro-ministro
Herbert Asquith resgatar um acordo assinado há 75 anos – o Tratado de Londres,
pelo qual os britânicos se comprometiam a defender a Bélgica em caso de invasão
–, e ingressar com as duas botas nas hostilidades. A entrada da Grã-Bretanha
surpreendeu a Alemanha e fortaleceu as hostes da Tríplice Entente. As colônias
Austrália, Canadá, Índia, Nova Zelândia e União da África do Sul ofereceram
assistência militar e financeira aos aliados. Também o Japão, ligado aos
britânicos por um tratado militar de 1902, declarou guerra aos germânicos, no
dia 23 de agosto. O conflito já tinha, de fato, uma escala mundial, com
repercussões sentidas muito além das fronteiras europeias.
FONTE: Veja na História - Especial Primeira Guerra.
Acesso completo: aqui
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