segunda-feira, 25 de maio de 2015

Pedra Preta-MT: Da história escrita oficialmente à história narrada pela memória





Pedra Preta-MT: Da história escrita oficialmente à história narrada pela memória

[...] A história local de Pedra Preta tem que ser refeita, repensada, não tirando o mérito dos fundadores da história oficial deste município, mas incluindo os excluídos, os que não são vistos na história das mulheres e dos outros pioneiros, pois eles continuam sendo “invisíveis” nessa construção local mesmo porque muitas vezes baseava-se apenas em documentos oficiais. (Roseli Gazotto, p. 22, 2006). 


            Há algum tempo venho me dedicando às leituras de pesquisas, a maioria delas, monografias, que abordam a História de Pedra Preta-MT. O meu interesse sempre esteve fundamentado na preocupação com a História Local, com a memória local já legitimada na história do nosso município. Nesse sentido, refiro-me a velha história narrada, contada, discursada a partir da fundação do município por dois cidadãos de origem japonesa; Noda Guenko e Jinya Konno.
            O município Pedra Preta-MT, assim como o município de Rondonópolis-MT, até mesmo devido à proximidade geográfica, também foi resultado do intenso processo de migração que se inicia durante A Era Vargas. A Marcha para Oeste caracterizou-se pela ocupação dos “espaços vazios”, na tentativa de quebrar os desequilíbrios regionais por meio de uma política que incentivou o processo de migração para o Centro-Oeste e Amazônia.
            Os senhores Noda Guenko e Jinya Konno muito contribuíram para o processo de ocupação e povoamento do Vale do Jurigue (Pedra Preta-MT), não há dúvidas. Porém, as pesquisas (algumas disponíveis na biblioteca da UFMT e as outras no Núcleo de Documentação Histórica Otávio Canavarros, UFMT) reivindicam a inclusão de outros sujeitos no processo histórico desse município. É justamente sobre a exclusão de sujeitos (mulheres e homens) que chegaram ao povoado praticamente juntos com a família Konno, e de Dona Amélia que chegou, em 1934, que escrevo aqui.
            A história popularmente conhecida pelos pedrapretenses é a de que, em 1950, Noda Guenko adquiriu extensa área de terras na região da futura cidade de Pedra Preta, na época era uma mata virgem na qual ele pretendia abrir uma fazenda e vislumbrava fundar uma cidade. Assim, durante o processo de colonização de Mato Grosso, requereu terras junto ao Estado e foi contemplado com 2.000 mil hectares que pertenciam a Rondonópolis. Contratou seu amigo Jinya Konno, que veio de Lins- SP, para iniciar a execução do projeto. 
            Para além dessa importante história, descrevo outras em pequenos trechos como a de Dona Amélia que diz ter chegado à região do atual município, em 1934, com 12 anos de idade, morava na região da Catanduva. De acordo com Dona Amélia sua família chegou e empossou o lugar; era uma “matona” virgem; quem chegasse ali primeiro era dono. “Somente quando fosse transformado em fazenda que era preciso medir, antes de ser fazenda, era morada”. O que a senhora narra era justamente o sistema de terras devolutas em Mato Grosso, diferente do que encontrou quando chegou, em 1950, Guenko, pois na ocasião se tratava da concessão de terras pelo Governo Federal e Estadual.
            Dona Amélia narra as dificuldades do cotidiano ao ir “comercializar” em Itiquira, usando como meio de transporte o carro de boi; o povoado ficava a 12 léguas de onde morava. De acordo com ela, Itiquira era uma “currutela” que tinha garimpo. Quase tudo que era consumido por sua família era produzido na fazenda onde morava, o que não era, eles compravam em Itiquira. Tudo o que sobrava em sua dispensa, era vendido lá.
            Sobre o quotidiano do povoado do Vale do Jurigue, outra senhora chamada Dona Margarida relembra que chegou em 08 de junho de 1955, às 09:00 horas da manhã, em um caminhão pau-de-arara, juntamente com mais cinco famílias. Relata que ao chegar teve vontade de voltar para sua terra, devido às dificuldades que encontrou. O maior medo de Margarida eram as onças que rondavam o lugar. Havia muitas onças.
            O povoamento do município de Pedra Preta, também conta com pioneiros como o Pai de Dona Daria que, segundo ela, chegou aqui, em 1955, praticamente junto com a família Konno. Em um desabafo, Dona Dária concluiu que seu pai não foi lembrado pela história, como outras pessoas foram. Ela acha que isso pode ter sido por ele ter passado um tempo fora, mas “eu acho que eles podiam ter colocado ele na história”. E podiam mesmo! E podemos! 

 Ronaldo Alves Ribeiro dos Santos – Professor de História, na Escola Estadual 13 de Maio

Fonte: Jornal "13 News" - Abril/Maio de 2015

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