Pedra
Preta-MT: Da história escrita oficialmente à história narrada pela memória
[...]
A história local de Pedra Preta tem que ser
refeita, repensada, não tirando o mérito dos fundadores da história oficial
deste município, mas incluindo os excluídos, os que não são vistos na história
das mulheres e dos outros pioneiros, pois eles continuam sendo “invisíveis”
nessa construção local mesmo porque muitas vezes baseava-se apenas em
documentos oficiais. (Roseli Gazotto, p. 22, 2006).
Há algum tempo
venho me dedicando às leituras de pesquisas, a maioria delas, monografias, que
abordam a História de Pedra Preta-MT. O meu interesse sempre esteve fundamentado
na preocupação com a História Local, com a memória local já legitimada na
história do nosso município. Nesse sentido, refiro-me a velha história narrada,
contada, discursada a partir da fundação do município por dois cidadãos de
origem japonesa; Noda Guenko e Jinya Konno.
O
município Pedra Preta-MT, assim como o município de Rondonópolis-MT,
até mesmo devido à proximidade geográfica, também foi resultado do intenso
processo de migração que se inicia durante A Era Vargas. A Marcha para Oeste
caracterizou-se pela ocupação dos “espaços vazios”, na tentativa de quebrar os
desequilíbrios regionais por meio de uma política que incentivou o processo de
migração para o Centro-Oeste e Amazônia.
Os
senhores Noda Guenko e Jinya Konno muito contribuíram para o processo de
ocupação e povoamento do Vale do Jurigue (Pedra Preta-MT), não há dúvidas.
Porém, as pesquisas (algumas disponíveis na biblioteca da UFMT e as outras no
Núcleo de Documentação Histórica Otávio Canavarros, UFMT) reivindicam a
inclusão de outros sujeitos no processo histórico desse município. É justamente
sobre a exclusão de sujeitos (mulheres e homens) que chegaram ao povoado
praticamente juntos com a família Konno, e de Dona Amélia que chegou, em 1934,
que escrevo aqui.
A história
popularmente conhecida pelos pedrapretenses é a de que, em 1950, Noda Guenko adquiriu extensa área de
terras na região da futura cidade de Pedra Preta, na época era uma mata virgem na
qual ele pretendia abrir uma fazenda e vislumbrava fundar uma cidade. Assim, durante o processo de colonização de Mato
Grosso, requereu terras junto ao Estado e foi contemplado com 2.000 mil
hectares que pertenciam a Rondonópolis. Contratou seu amigo Jinya Konno,
que veio de Lins- SP, para iniciar a execução do projeto.
Para além dessa importante
história, descrevo outras em pequenos trechos como a de Dona Amélia que diz ter
chegado à região do atual município, em 1934, com 12 anos de idade, morava na
região da Catanduva. De acordo com Dona Amélia sua família chegou e empossou o
lugar; era uma “matona” virgem; quem chegasse ali primeiro era dono. “Somente quando fosse transformado em fazenda
que era preciso medir, antes de ser fazenda, era morada”. O que a senhora
narra era justamente o sistema de terras devolutas em Mato Grosso, diferente do
que encontrou quando chegou, em 1950, Guenko, pois na ocasião se tratava da
concessão de terras pelo Governo Federal e Estadual.
Dona
Amélia narra as dificuldades do cotidiano ao ir “comercializar” em Itiquira,
usando como meio de transporte o carro de boi; o povoado ficava a 12 léguas de
onde morava. De acordo com ela, Itiquira era uma “currutela” que tinha garimpo.
Quase tudo que era consumido por sua família era produzido na fazenda onde
morava, o que não era, eles compravam em Itiquira. Tudo o que sobrava em sua
dispensa, era vendido lá.
Sobre
o quotidiano do povoado do Vale do Jurigue, outra senhora chamada Dona
Margarida relembra que chegou em 08 de junho de 1955, às 09:00 horas da manhã,
em um caminhão pau-de-arara, juntamente com mais cinco famílias. Relata que ao
chegar teve vontade de voltar para sua terra, devido às dificuldades que
encontrou. O maior medo de Margarida eram as onças que rondavam o lugar. Havia muitas onças.
O
povoamento do município de Pedra Preta, também conta com pioneiros como o Pai
de Dona Daria que, segundo ela, chegou aqui, em 1955, praticamente junto com a
família Konno. Em um desabafo, Dona Dária concluiu que seu pai não foi lembrado
pela história, como outras pessoas foram. Ela acha que isso pode ter sido por
ele ter passado um tempo fora, mas “eu acho que eles podiam ter colocado ele na
história”. E podiam mesmo! E podemos!
Ronaldo Alves Ribeiro dos Santos – Professor de
História, na Escola Estadual 13 de Maio
Fonte: Jornal "13 News" - Abril/Maio de 2015
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