terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

AS REPRESENTAÇÕES DA INFÂNCIA NA MÍDIA IMPRESSA EM MATO GROSSO



 AS REPRESENTAÇÕES DA INFÂNCIA NA MÍDIA IMPRESSA EM MATO GROSSO NOS ANOS DE 1930 A 1945 - UFMT – 2013




Compartilho com vocês o tema da minha pesquisa em educação concluída no ano de 2013. Nela tive a oportunidade de discorrer um pouco sobre a história da infância em Mato Grosso entre os anos de 1930 e 1945 durante a conhecida Era Vargas. A princípio, a história da infância parece um tema menor nas pesquisas educacionais e históricas. No entanto, esse período ou fase da vida humana, no qual todos nós passamos um dia, constitui-se preocupação de governos e de práticas políticas em todo o mundo. Tais preocupações - como desenvolvimento, saúde e educação, entre outros -, se devem pelo fato de representamos as crianças como homens e mulheres do futuro, como construtores de uma nação, de um país forte e desenvolvido. Em muitos discursos históricos e contemporâneo isso se torna muito evidente.
Desse modo, a infância brasileira passa a ser campo privilegiado de intervenção social na primeira metade do século XX, momento em que se constituem as primeiras políticas públicas voltadas para o seu atendimento. Assim, a pesquisa teve como foco as representações da infância em jornais e revista, que circularam em Mato Grosso, nos anos de 1930 a 1945, com o objetivo de compreender como determinadas concepções de infância passam a ser norteadoras de políticas públicas voltadas à criança e ao seu atendimento. Tratou-se, no contexto do Estado de Mato Grosso, analisar como a infância é tomada pelas ações políticas, como campo de intervenções sociais, de modo que fenômenos relativos à população infantil passam a ser categorizados, mensurados e prescritos ao fazer desse tempo de vida alvo de poder. A pesquisa é histórica, e teve como fontes os jornais que circularam entre os anos de 1930 e 1945, como “O Estado de Mato Grosso”, “A Cruz”, e a revista cuiabana de variedades “A Violeta”. Foi observado como as representações de infância são atravessadas por uma forte preocupação com o futuro da nação e seu desenvolvimento, que, por sua vez, se materializa nas políticas de assistência e de educação das crianças, atreladas a uma política nacional mais ampla em consonância com os ideais e aspirações do Governo Vargas, como a construção do “novo homem brasileiro”, o desenvolvimento da nação e o fortalecimento do Estado. 
Jornal: O Estado de Mato Grosso, 21 de outubro de 1939 - "As irmãs Dione, as cinco gêmeas do Canadá, que de tanta popularidade gozam hoje no mundo inteiro, têm em Mato Grosso três rivaiszinhos. Trata-se dos gêmeos Haroldo Crsitovam, Aécio Flávio e Marcelo Renato, filhos do casal Umberto Miranda - Alzira Jorge Miranda, residente em Campo Grande. Os três gêmeos de Campo Grande, que contam apenas três anos de idade, ainda incompletos, nada ficam a dever, em graça, robustez e eugenia, como se pode verificar, numa rápida comparação, pela gravura, às famosas Dione canadenses".  


Creio que pesquisas como essa ajudam historiadores e educadores e a sociedade como um todo a pensar sobre que tipos de políticas podemos almejar para nossas crianças, de modo que as pensemos não somente em termos de futuro, mas nas crianças como sujeitos singulares, particulares e no tempo presente. Na pesquisa que realizei, analisei como a infância esteve ligada ao projeto político da Era Vargas, principalmente a partir da instituição do Estado Novo (1937-1945), da nação que se queria construir. Ainda hoje, nas lutas legítimas pela infância mais pobre, no combate à sua condição de miséria, fome e melhores condições de educação e saúde, como a do Programa Brasil Carinhoso, a infância está intimamente ligada ao projeto político de construção de um país desenvolvido e forte.
A preocupação com a infância não pode ser um dado subordinado ao tema desenvolvimento, mas pensada como uma questão pública, pois se relegarmos a infância apenas à perspectiva econômica, colocamos em risco a civilização, e com possibilidade à barbárie, ao negarmos que as crianças tem suas próprias necessidades e particularidades, independente do contexto econômico em que estão inseridas.    

Ozéas de Oliveira - professor de História na rede estadual de ensino - Mato Grosso.


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