quinta-feira, 28 de maio de 2015

Cantinho do Estreante





Enfrentando a Escola

Logo que o sol nasce, o garoto se levanta, toma banho e se arruma. Toma o café da manhã que sua mãe preparou e vai para a escola. No caminho, encontra seus amigos e todos seguem juntos, sempre com brincadeiras e comentários sobre o jogo de futebol da noite passada.
Assim que chega à escola, vai logo paquerar as meninas e “zoar” as amigas. Às 7:00h, bate o sinal de início de aula e todos vão para suas salas. O menino se junta com seus colegas. Faz suas atividades e muita bagunça.
No recreio, come o lanche e se junta à rodinha de amigos para conversar sobre futebol, mulheres. Às 7:10h retornam para a sala. Em sua contagem regressiva, o menino não vê a hora de ir embora e tenta se entreter com os colegas e fazer seus deveres.
E chega a tão esperada 11:00h e o pequeno estudante vai embora na maior euforia para chegar logo em sua casa. Ao chegar, vai direto para o fogão procurar o almoço, para depois aproveitar o resto do dia.
Jeniffer Martins e Lucas Caires – 3º “D”





Ela é Guerreira

Observando pela janela, lá a vi. Vinha pela calçada com trajes humildes e com a sua simplicidade dizia bom dia a todos que via pelo caminho. Reparei que carregava sacolas nas mãos. Deveriam ser pães. Pois eu havia notado que quase todas as manhãs ela ia até a padaria.
Ao entrar em casa, coloca as sacolas em cima da mesa e vai até o quarto acordar seus filhos para irem à escola. Batalhadora, também se arruma para ir trabalhar. Afinal, alguém tem que sustentar aquela casa! Já saindo de casa, dá a benção aos seus filhos e lhes deseja uma boa aula. Sabe que em seguida terá um longo caminho pela frente até chegar a seu destino. Como todos os dias, ela caminha, caminha, caminha, até chegar ao ponto de ônibus.
Assim que chega ao serviço, coloca o uniforme nas cores preto e branco e começa a faxina. A patroa reclama, diz que ela está chegando muito atrasada! Mas o que se pode fazer? É longe onde mora e ela depende de transporte público. Coitada! Além de sustentar seus filhos sozinha, tendo tantos problemas, ainda tem que aguentar a reclamação da patroa.
Depois de um dia cansativo, a vejo chegando em casa, e, apesar do cansaço, continua com um belo sorriso no rosto. Porém, o dia dela ainda não acabou, sempre tem tempo para dar carinho e amor aos seus filhos.
Pronto! Agora ela vai se deitar e quem tinha sido tão forte durante o dia derrama-se em lágrimas por ter sido abandonada injustamente por alguém que dizia ser seu companheiro na hora em que mais precisou. E como toda mãe nessa situação, ela se torna pai também, educando e lutando para dar um futuro melhor a seus filhos.
Luiz e Fabrina – 3º “D”

Fonte: Jornal "13 News"

terça-feira, 26 de maio de 2015

A Literatura Young Adults na sala de aula




A literatura Young Adults, abreviada para YA-Lit ou simplesmente YA, é um gênero da ficção destinado a jovens e adolescentes que se interessam por temáticas adultas. Diferencia-se do gênero infantojuvenil por deixar de lado a inocência das personagens e abrir espaço para temas como identidade, sexualidade, política, suicídio, drogas, doenças, morte e bullying, entre outros.
Nos últimos anos, tanto no mercado editorial estrangeiro quanto no nacional, a literatura Young Adults cresceu de forma vertiginosa e tem chamado a atenção. Livros como “A Culpa é das Estrelas”, de John Green, e “Jogos Vorazes”, de Suzanne Collins, ocupam a lista dos mais vendidos e são expostos nas vitrines das livrarias. No Brasil, além dessas obras serem traduzidas e publicadas, algumas editoras, como Record e Gutenberg, apostam em escritores brasileiros. Paula Pimenta, com sua série “Fazendo Meu Filme” e Thalita Rebouças, com sua coleção de crônicas “Fala Sério”, são populares entre os adolescentes.
Diante disso, algumas escolas têm trabalhado seus planos de leitura incluindo títulos relacionados ao YA. A “A Culpa é das Estrelas”, por exemplo, é uma obra que permite ao professor de Língua Portuguesa trabalhar desde gramática a debates ou redações. A mesma obra serve de base para professores de Sociologia e Biologia trabalharem o tema “câncer” e outras doenças. O professor de Literatura pode apontar intertextualidades entre o romance de John Green e outras obras que incitem questões existenciais.
“A Culpa é das Estrelas” também é interessante por citar “O Diário de Anne Frank”. O livro de relatos de uma garota que vivenciou a Segunda Guerra Mundial voltou para a lista dos mais vendidos e hoje é bastante procurado por jovens.
Seguindo esse exemplo, pais e professores têm orientado os estudantes no sentido de partir da Young Adults ao encontro dos clássicos. A série de fantasia urbana “Percy Jackson e os Olimpianos”, de Rick Riordan, apresenta as aventuras de um menino que descobre ser filho de Poseidon – o deus grego dos mares e oceanos – e serve de entrada para a leitura de “Odisseia” e “Ilíada”, de Homero, além de outras leituras relacionadas à Mitologia Grega.
Muitas obras YA são adaptadas para o cinema. Romances distópicos, como “Jogos Vorazes” e “Divergente”, ganham efeitos especiais e muita ação para embalar as tramas sobre governos ditadores e opressivos.
Na obra de Suzanne Collins, Panem é um país dividido em 12 distritos e a Capital, onde antes existiram os Estados Unidos. A Capital é uma cidade de luxo e esbanjamento, sustentada pelos distritos, cujos moradores vivem na pobreza. Na história de Panem, houve o Distrito 13, que se rebelou contra a Capital e por isso foi destruído. Como forma de relembrar o que acontece com rebeldes, 24 tributos, um garoto e uma garota de cada distrito, são mandados para uma arena gigantesca todos os anos. Nesse lugar hostil, precisam sobreviver às adversidades criadas por computadores e lutar uns contra os outros, enquanto são televisionados para todo o país. Aquele que sobrevive ganha fama e dinheiro.
Ficções distópicas e especulativas da literatura Young Adults podem levar o leitor a se interessar por outros livros sobre governos totalitários, como “1984”, de George Orwell, “Admirável Mundo Novo”, de Aldous Huxley, e “Fahrenheit 451”, de Ray Bradbury. Professores de História podem comparar com os estudantes as ficções e os fatos históricos. Em que se assemelha e se diferencia a censura abordada em “Fahrenheit 451” da censura sofrida pelos brasileiros nas ditaduras militares? A exemplo de “Jogos Vorazes” e “1984”, como os meios de comunicação podem influenciar as pessoas a sentirem medo e temer um governo?
A literatura Young Adults tem despertado o gosto pela leitura em muitos jovens e adolescentes, como comprovam os milhares de blogs literários mantidos por eles. Esses blogs publicam resenhas e indicações e são bastante acessados. Levar essas obras para a sala de aula é uma forma de convidar o estudante para uma leitura feita para ele, uma leitura que pode se desdobrar e avançar para outras leituras e outras disciplinas. Alguns jovens, inclusive, acabam se interessando pela escrita também.

Jefferson Reis é pedra-pretense. É formado em Letras pela UFMT e concluiu o Ensino Médio na escola “13 de Maio”. Publicou a crônica "A Primeira Página" no livro de antologia “Crônicas da Fantasia”, organizada por Cristiano Rosa, Editora Literata.  Recentemente teve o conto "Mal du Siècle" publicado na antologia "Devaneios Improváveis - Segunda Antologia EntreContos", organizada por Gustavo Araujo. O livro pode ser baixado gratuitamente em vários formatos digitais no link:  http://entrecontos.com/2015/03/22/devaneios-improvaveis-segunda-antologia-entrecontos/

Fonte: Jornal "13 News" 

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Pedra Preta-MT: Da história escrita oficialmente à história narrada pela memória





Pedra Preta-MT: Da história escrita oficialmente à história narrada pela memória

[...] A história local de Pedra Preta tem que ser refeita, repensada, não tirando o mérito dos fundadores da história oficial deste município, mas incluindo os excluídos, os que não são vistos na história das mulheres e dos outros pioneiros, pois eles continuam sendo “invisíveis” nessa construção local mesmo porque muitas vezes baseava-se apenas em documentos oficiais. (Roseli Gazotto, p. 22, 2006). 


            Há algum tempo venho me dedicando às leituras de pesquisas, a maioria delas, monografias, que abordam a História de Pedra Preta-MT. O meu interesse sempre esteve fundamentado na preocupação com a História Local, com a memória local já legitimada na história do nosso município. Nesse sentido, refiro-me a velha história narrada, contada, discursada a partir da fundação do município por dois cidadãos de origem japonesa; Noda Guenko e Jinya Konno.
            O município Pedra Preta-MT, assim como o município de Rondonópolis-MT, até mesmo devido à proximidade geográfica, também foi resultado do intenso processo de migração que se inicia durante A Era Vargas. A Marcha para Oeste caracterizou-se pela ocupação dos “espaços vazios”, na tentativa de quebrar os desequilíbrios regionais por meio de uma política que incentivou o processo de migração para o Centro-Oeste e Amazônia.
            Os senhores Noda Guenko e Jinya Konno muito contribuíram para o processo de ocupação e povoamento do Vale do Jurigue (Pedra Preta-MT), não há dúvidas. Porém, as pesquisas (algumas disponíveis na biblioteca da UFMT e as outras no Núcleo de Documentação Histórica Otávio Canavarros, UFMT) reivindicam a inclusão de outros sujeitos no processo histórico desse município. É justamente sobre a exclusão de sujeitos (mulheres e homens) que chegaram ao povoado praticamente juntos com a família Konno, e de Dona Amélia que chegou, em 1934, que escrevo aqui.
            A história popularmente conhecida pelos pedrapretenses é a de que, em 1950, Noda Guenko adquiriu extensa área de terras na região da futura cidade de Pedra Preta, na época era uma mata virgem na qual ele pretendia abrir uma fazenda e vislumbrava fundar uma cidade. Assim, durante o processo de colonização de Mato Grosso, requereu terras junto ao Estado e foi contemplado com 2.000 mil hectares que pertenciam a Rondonópolis. Contratou seu amigo Jinya Konno, que veio de Lins- SP, para iniciar a execução do projeto. 
            Para além dessa importante história, descrevo outras em pequenos trechos como a de Dona Amélia que diz ter chegado à região do atual município, em 1934, com 12 anos de idade, morava na região da Catanduva. De acordo com Dona Amélia sua família chegou e empossou o lugar; era uma “matona” virgem; quem chegasse ali primeiro era dono. “Somente quando fosse transformado em fazenda que era preciso medir, antes de ser fazenda, era morada”. O que a senhora narra era justamente o sistema de terras devolutas em Mato Grosso, diferente do que encontrou quando chegou, em 1950, Guenko, pois na ocasião se tratava da concessão de terras pelo Governo Federal e Estadual.
            Dona Amélia narra as dificuldades do cotidiano ao ir “comercializar” em Itiquira, usando como meio de transporte o carro de boi; o povoado ficava a 12 léguas de onde morava. De acordo com ela, Itiquira era uma “currutela” que tinha garimpo. Quase tudo que era consumido por sua família era produzido na fazenda onde morava, o que não era, eles compravam em Itiquira. Tudo o que sobrava em sua dispensa, era vendido lá.
            Sobre o quotidiano do povoado do Vale do Jurigue, outra senhora chamada Dona Margarida relembra que chegou em 08 de junho de 1955, às 09:00 horas da manhã, em um caminhão pau-de-arara, juntamente com mais cinco famílias. Relata que ao chegar teve vontade de voltar para sua terra, devido às dificuldades que encontrou. O maior medo de Margarida eram as onças que rondavam o lugar. Havia muitas onças.
            O povoamento do município de Pedra Preta, também conta com pioneiros como o Pai de Dona Daria que, segundo ela, chegou aqui, em 1955, praticamente junto com a família Konno. Em um desabafo, Dona Dária concluiu que seu pai não foi lembrado pela história, como outras pessoas foram. Ela acha que isso pode ter sido por ele ter passado um tempo fora, mas “eu acho que eles podiam ter colocado ele na história”. E podiam mesmo! E podemos! 

 Ronaldo Alves Ribeiro dos Santos – Professor de História, na Escola Estadual 13 de Maio

Fonte: Jornal "13 News" - Abril/Maio de 2015